Com sustentabilidade econômica, evento transforma palacete histórico em hotel boutique
Fotos: @andrenazarethfoto
A 32ª edição da CASACOR Rio pode ser visitada até 15 de outubro. Este ano, o evento volta à Residência Brando Barbosa, no Jardim Botânico, com uma proposta mais inovadora: a de um hotel boutique. Na mostra, o palacete, vizinho ao Jardim Botânico, é transformado num hotel exclusivo, com 44 ambientes assinados por alguns dos melhores profissionais de arquitetura, design de interiores e paisagismo. Entre eles, espaços abertos ao público como bares descolados, restaurantes charmosos e, claro, a exuberância de 12 mil metros quadrados de jardins formados por espécies da Mata Atlântica.
As características originais da arquitetura de interiores do palacete seguirão à vista dos visitantes. Peças como os lustres, tetos trabalhados, pisos, sancas e maçanetas de murano são incorporados aos projetos dos profissionais que participam desta edição, assim como foram nos últimos dois anos. Afinal, o imóvel é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), que acompanha todas as intervenções feitas para o evento.

A entrada na CASACOR Rio acontece pelo Pausa Pátio, de @anaveraspaisagismo, um jardim perfumado e colorido que recebeu elementos contemporâneos em aço corten que contrastam com a arquitetura original da residência. Mobiliário confortável (e sustentável), iluminação aconchegante, o som das águas e dos pássaros que ali habitam, criam a atmosfera perfeita para apurar os sentidos.

Assinado por David Bastos @dbarquitetos, o living da Residência Brando Barbosa manteve as características da arquitetura original. Mas ganhou contemporaneidade com uma decoração em que prevalecem os tons claros nos móveis e tecidos e a textura arenosa da parede, numa referência ao Rio. Destaque para as obras de artes de grandes nomes nacionais, como Carybé, Almandrade, Tunga e Waltércio Caldas, além da fotografia de Fernando Torquato.

O Piano-Bar de @paulanederarquitetura é um ambiente leve e elegante, que proporciona uma conexão harmoniosa com o jardim e entre os visitantes. Quase um lounge-garden, com sofá em forma de ilha, tons claros e uma pitada forte de verde. No décor, chamam atenção dois painéis: um que reúne obras de arte; e o outro, criado pelo Coletivo Muda, em forma de lambe-lambe, e instalado no teto, trazendo um colorido impactante ao ambiente.
Palacete Brando Barbosa: um pouco de história
Vizinha ao Jardim Botânico, a propriedade foi construída em 1860 como parte da antiga Chácara da Floresta pela família Faro, de importantes cafeicultores. Anos mais tarde, foi a residência do importante médico sanitarista Oswaldo Cruz. Mas, seus dias de glória foram vividos apenas a partir da década de 1960, quando Jorge Brando Barbosa e a esposa Odaléa compraram, reformaram e ampliaram o imóvel original usando móveis, arcos, portais, quadros e esculturas garimpados em antiquários, conventos, sedes de fazenda e igrejas do interior do Brasil. Hoje, o imóvel é sede do Instituto Brando Barbosa (IBB), que cede o espaço, pelo terceiro ano, para a realização da CASACOR Rio.
Tendências
CORES E EFEITOS
Os tons vibrantes vêm com tudo nessa edição. Eles aparecem em diferentes tonalidades de vermelhos, azuis, verdes. Das mais abertas às mais secas. Assim como as cores que remetem ao natural, como o terracota, usado não só em revestimentos, mas também em móveis. Os tons neutros e pastel também aparecem em profusão nas paredes e no mobiliário, deixando o destaque, muitas vezes, para os objetos e obras de arte. Os efeitos decorativos em tetos e paredes também seguem em alta: ombré, cimento queimado e o exclusivo velvet da Coral - que confere um resultado aveludado às superfícies -, são vistos em vários espaços.

Jardim de Inverno de @erickfigueirademello. Para o tapete do teto, da @galeriahathi, Erick selecionou trama e cada uma das fibras naturais que compõem o tapete. O acabamento foi feito in loco pela equipe da Hathi. Os móveis de fibra natural pintados de preto foram desenhados pelo arquiteto.

A Recepção do hotel boutique ficou a cargo de @wairdepaula e @lenoralohrischarqinteriores. Uma seleção primorosa de mobiliário contemporâneo e obras de arte de impacto, como a escultura de Krajcberg, fazem da arte o fio condutor do espaço.
CORPO E MORADA
O tema nacional da CASACOR foi uma grande inspiração para os profissionais cariocas. Mariana Teixeira e Pedro Pantoja mergulharam na referência para criar um Palacito Bric que tem cubas de cerâmica artesanal em formato de corpo humano e revestimento em concreto num tom produzido para lembrar a pele humana. João Panaggio foi até as termas romanas para criar seu Pavilhão Deca, com planta circular que tem a água como elemento central e os cuidados com o corpo como objetivo final. Fernanda Medeiros criou uma Sala de Banho para a prática do autocuidado e relaxamento. E Gisele Taranto fez sua Suíte Presidencial quase como um complemento ao corpo, um espaço de descanso, pensado para proporcionar bem-estar e saúde mental.

O Pavilhão Deca, uma espécie da casa-spa, criado para a @decaoficial, leva assinatura de @joaopanaggio. Com o uso de estrutura metálica, foi possível vencer os grandes vãos da construção, com muita luz natural e conexão com a paisagem.

A Sala de Banho de @fernandamedeirosarquitetura convida para a prática do autocuidado e relaxamento. Tons de azul e terracota trazem aconchego e elementos originais da casa contrastam com peças ora contemporâneas, ora rústicas.
TEXTURAS E SENSAÇÕES
Beleza pode até ser fundamental no quesito decoração. Mas, os profissionais estão apostando cada vez mais no estímulo de sensações. A ideia é aguçar todos os sentidos, seja através de uma trilha sonora provocante, seja com diferentes aromas, seja com o uso de múltiplas texturas que, essas sim, estão por todos os lados dessa CASACOR Rio. Em móveis, paredes, tetos, objetos.
ELEMENTOS ARTESANAIS
O feito a mão veio definitivamente para ficar. Os elementos artesanais e fibras naturais estão por toda a parte, em móveis, objetos, revestimentos. Por todos os ambientes, há muitos objetos de cerâmica, cestaria, madeira.

PAINÉIS DE MADEIRA
Eles estão presentes em muitos ambientes, nas mais variadas cores. E, embora, em quase todos apareçam como revestimentos de parede, em alguns eles assumem novas funções. Seja camuflando o armário e servindo de cabeceira, como na Suíte Tu Vens, de Paula Müller; seja na versão ripada com iluminação embutida do Quarto 021, de Camila Simbalista e Paula Wetzel. Outro destaque é o pinus canadense com seus nós bem aparentes usado por Mauricio Nobrega para “envelopar” os ambientes Café e Livraria.


O Quintal, de @mauricionobregaarquitetura, conjuga café e livraria. Construído em três contêineres, o espaço ganhou revestimento de pinus de reflorestamento que ajuda a trazer um ar mais aconchegante aos ambientes criando um clima quase de quintal de casa.


Suíte Tu Vens, de @paulamullerarquiteta: quarto acolhedor onde o hóspede também se sente abraçado e conectado consigo mesmo.
MUXARABIS E TRELIÇAS. Os elementos estão por toda a parte, em diferentes materiais. A madeira, claro, segue como o mais comum e aparece na Recepção, de Lenora Lohrisch e Wair de Paula; e no Bar do Jardim Gafisa, de Diego Raposo e Manuela Simas, que usaram o recurso como forro no teto. Já Hannah Cabral e Monique Pampolha criaram um muxarabi de alumínio com pintura eletrostática imitando madeira que circunda toda a sua Suíte Oriel. Já na Loja da Casa, Claudia Infante optou por um muxarabi em fibra de vidro, mais resistente e sustentável.

A Suíte Oriel é dedicada ao descanso, com tons neutros e suaves e texturas orgânicas que remetem a elementos naturais. O principal elemento de design é o grande painel em muxarabi, criando um ambiente que protege quem está no interior, ao mesmo tempo em que permite a valorização do verde. Criada pelas arquitetas Hannah Cabral e Monique Pampolha, do @studiomh_arquitetura, a peça funciona quase como uma obra viva, formando desenhos que mudam conforme a luminosidade.
MOBILIÁRIO ORGÂNICO
As curvas conquistaram lugar definitivo na decoração e aparecem por praticamente todos os ambientes. E o redondo é, sem dúvida, a forma mais usada esse ano: em poltronas, telas, tapetes.
OLHE PARA CIMA
Os tetos continuam ganhando destaque. Muxarabi, tapetes, lambe-lambe do coletivo Muda, pinturas, texturas e até tacos. Vale muito dar aquela olhadinha para o alto e apreciar a criatividade dos nossos profissionais. Especialmente no Piano-Bar, de Paula Neder (lambe-lambe); no Jardim de Inverno, de Erick Figueira de Mello (tapete); no hall do Bar do Jardim Gafisa, de Diego Raposo e Manuela Simas (muxarabi); e na Casa’ 73, de Victor Niskier (tacos).

Na Morada é o bangalô-suíte projetado por @adrianaestevesarquitetura na área externa da CASACOR Rio. Cores neutras, materiais naturais e muito vidro facilitando a entrada da luz natural são destaques do espaço.

A ambientação criada por @amandamirandaarquitetura na Cozinha do Chef – Raízes celebra a brasilidade com um mix de texturas e cores, que inclui peças artesanais em palha, cerâmica e madeira e uma padronagem de folhagens tropicais nas paredes.

O Speakeasy, ambiente de @tiagofrreire.arq, foi inspirado nos bares secretos norte-americanos que existiam entre as décadas de 1920 e 1930, quando a lei seca impedia a venda de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos. Com paleta de tons densos, tecidos pesados como o veludo e muita personalidade, o espaço aposta no maximalismo.

Sala de Encontros de @patricia_marinho_arq e Manuèle Colás. A dupla apresenta os desenhos geométricos e coloridos do arquiteto Noel Marinho, em painéis e tapeçarias inéditas, junto com móveis icônicos e mobiliário assinado. Entre eles, a poltrona Paulistana de Jorge Zalszupin.

O arquiteto Lucas Barbosa @studiolucca usa, em sua Vinoteca, a arquitetura como uma forma de transbordar sensações. Nesse caso, o arrepio. Ele está presente nas diferentes texturas dos revestimentos: porcelanato para o piso, papel croco para uma das paredes e tijolinho bruto aplicado tanto na parede como no teto.

Pensado como uma extensão do corpo, o Palacito Bric foi criado pela @bricarquitetura e totalmente revestido de cimento em textura que remete ao barro. Erguido como um volume monolítico, tem inspiração em obras de Paulo Mendes da Rocha e Álvaro Siza. Um painel de azulejos da artista espanhola Noemi Carpu faz a divisão entre cama e banheira e traz as curvas do corpo humano.
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