Exposição recria ambiente de casa ícone de São Paulo
- Redação
- 19 de set.
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Sob curadoria de Celso Lima, a Fundação Maria Luisa e Oscar Americano revisita e celebra a arquitetura e o design de interiores da década de 50, destacando a obra de grandes referências do design
A exposição “Um design brasileiro nos anos 1950: linhas de uma casa modernista” busca recriar o ambiente modernista da residência de Maria Luisa e Oscar Americano e sua família, em São Paulo, destacando um aspecto ainda pouco valorizado pela historiografia do design: o têxtil.


A curadoria de Celso Lima propõe revisitar um recorte da arquitetura e do design modernistas brasileiros, tendo como eixo central a residência projetada por Oswaldo Bratke. O conjunto arquitetônico se completa com o paisagismo de Otávio Augusto Teixeira Mendes e com as obras distribuídas pelo parque — como o mural de Karl Plattner, as esculturas de Karoly Pichler e Emanuel Manasse, e os pisos em mosaico em pedras portuguesas de Livio Abramo —, todos harmoniosamente integrados ao verde da Mata Atlântica que envolve o espaço.

Para essa reconstrução, a mostra apresenta o projeto de design de interiores concebido pelo estúdio/loja Branco&Preto, fundado em 1952 por um coletivo de seis jovens arquitetos: Carlos Millan, Roberto Aflalo, Miguel Forte, Jacob Ruchti, Plinio Croce e Chen Y Hwa.


Para além do projeto da casa, a exposição homenageia designers importantes. “Nosso desejo foi comentar o projeto arquitetônico de Oswaldo Bratke, mas com protagonismo das propostas realizadas nos interiores da casa pelo coletivo Branco&Preto, que criou mobiliários e ambientação, assim como os tecidos utilizados nas forrações das peças, cortinas e acessórios, como almofadas e colchas”, explica o curador da mostra, Celso Lima.


A colaboração desses profissionais no projeto da casa da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano exemplifica de forma marcante os caminhos que o modernismo imprimiu à arquitetura e ao design brasileiros no pós-guerra. As influências construtivistas europeias, ao chegarem ao país, foram reinterpretadas e adaptadas, ganhando variações moldadas por regionalidades e contextos tipicamente brasileiros.
“As diferenças são facilmente percebidas na ambientação criada pelo Branco&Preto, que privilegia espaços arejados, adequados às características climáticas e culturais do Brasil. Também se destacam os materiais utilizados, como as madeiras brasileiras no mobiliário, e as temáticas desenvolvidas pelos designers em padrões têxteis de linguagem xilográfica, que evocam nossa flora, culinária, dança e aspectos geográficos. Esses elementos dialogam com os geométricos listrados, compondo o cenário de uma casa moderna para uma família da elite paulistana nos anos 1950”, comenta Lima.


O que o público irá encontrar na mostra
Telas de Portinari e Di Cavalcanti, pertencentes ao acervo da família, compõem a parede dedicada à representação da pintura modernista do período. Ao lado delas, o biombo criado pela designer têxtil e tecelã Regina Gomide Graz, cedido pela Coleção Yvani e Jorge Yunes, evidencia as origens e os caminhos da arte e do design no Brasil entre as décadas de 1930 e 1950. Esses elementos funcionam como condutores temporais no projeto expográfico concebido pelo arquiteto Marco Antônio Sousa Silva.
Estarão em exibição duas poltronas M1, parte do mobiliário original da casa, criado em 1955 pela Branco&Preto. Ícones do design da década, essas poltronas foram especialmente recriadas para a exposição pela Etel Design, a partir do projeto original. Um mostruário de cores em sedas complementa a ambientação, resgatando o repertório cromático do grupo.
Irene Ruchti, parceira e esposa de um dos arquitetos do Branco&Preto e ex-aluna do Instituto de Arte Contemporânea do MASP (IAC/MASP), atuou como paisagista e designer têxtil. A mostra resgata parte das padronagens que criou para o estúdio, incluindo as icônicas estampas listradas, marca registrada das forrações e acessórios têxteis utilizados nos projetos da loja.
Celso Lima é artista plástico, designer de superfícies e pesquisador de técnicas de estamparia africanas e asiáticas. Com trabalhos publicados nas revistas Casa Vogue, Casa Claudia e Casa & Jardim, desenvolve estampas artesanais e digitais, murais têxteis e oficinas no SESC-SP. Foi co-curador da exposição Vkhutemas: O Futuro em Construção e é coautor do livro Vkhutemas: Desenho de uma Revolução (2021). Estuda cultura material africana, biografias de artistas e a influência da Bauhaus e do construtivismo russo no design contemporâneo.
“Um design brasileiro nos anos 1950: linhas de uma casa modernista”, com curadoria de Celso Lima
Em cartaz: até março de 2026.
Fundação Maria Luisa e Oscar Americano - Av. Morumbi, 4077 - São Paulo
Terça a domingo, das 10h às 17h30
Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). Estudantes e maiores de 60 anos pagam meia entrada. Entrada gratuita em todas as terças-feiras.
Mais informações: https://www.fundacaooscaramericano.org.br/


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