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Instituto Fazendinhando transforma casa de 4 m²

Foto do escritor: RedaçãoRedação

O projeto foi realizado na residência de um morador da comunidade do Jardim Colombo, na Zona Oeste de São Paulo, a partir de materiais doados e recursos reaproveitados




Ester Carro dirige Fazendolar, pilar do Instituto Fazendinhando responsável por reformas em moradias precárias. Fotos: @onenoir_photo



É possível morar em uma casa de 4 m² com dignidade e conforto? O projeto do Instituto Fazendinhando, trabalho social dirigido pela arquiteta Ester Carro, prova que sim. O Instituto finalizou uma reforma na casa de Francisco da Silva, 59 anos, popularmente conhecido como Tiquinho em seu bairro. A casa não tinha banheiro e nem segurança ou conforto.

Conforme dados coletados em 2019 pela Síntese dos Indicadores Sociais, do IBGE, cerca de 15 milhões de brasileiros moram em habitações com alguma condição precária ou com riscos de segurança. O levantamento também destacou que 21,3% da população vive em casas sem banheiros, construídas com restos de madeira ou outras situações.


Cenas da casa do Tiquinho antes da reforma:




Após diversas avaliações no espaço, as obras iniciaram no final de abril de 2023, por meio do Fazendolar – pilar do Instituto responsável por reformas em moradias precárias. Hoje, a casa possui áreas e elementos com funções básicas. Nem em sonhos Francisco imaginava essa possibilidade no lugar em que mora. “Eu não tinha espaço para nada. Até para me movimentar tinha que ser calculado”, lembra Tiquinho.


A reforma foi dividida em duas etapas. O primeiro passo foi a construção do banheiro debaixo de uma escada que leva ao andar da casa vizinha. O espaço foi revestido por azulejos brancos, com a incorporação de vaso sanitário, pia, chuveiro e um espelho, tudo feito com materiais doados. “Antes de começar a obra, iniciamos uma campanha para arrecadar recursos, principalmente para a parte de marcenaria”, diz Ester. Para a arquiteta, essa foi uma das fases mais desafiadoras, pois, no começo, ela e sua equipe enfrentaram dificuldades para conseguir os materiais necessários. “Como a casa é muito pequena, ela precisava ser totalmente adaptada.”


Cama suspensa e projeto de marcenaria foram soluções encontradas pela arquiteta para driblar o pouquíssimo espaço.



No decorrer do projeto, Ester participou da CASACOR São Paulo 2023, onde apresentou o espaço Motirô. Nele, a arquiteta representou a arquitetura social e o morar em lares pequenos nas periferias. Além de provocar uma reflexão no público, a exposição também serviu para o Instituto reaproveitar diversos recursos. “Com a desmontagem da CASACOR, conseguimos levar revestimentos e gabinetes para a casa do Tiquinho”, conta Ester. Ainda, algumas aquisições foram feitas nos comércios da própria comunidade, fomentando a economia local.


Assim, a obra avançou à segunda etapa, que teve como objetivo elevar a cama do morador a partir do nivelamento do piso e da instalação de uma estrutura de madeira. Francisco relata que o projeto de ampliação da sua casa teve um grande impacto na sua vida. “Me ajudou muito e levantou minha autoestima”, conta. Ele ressalta a importância de ter um lugar para se higienizar, para dormir com mais aconchego e, até mesmo, para armazenar seus alimentos com mais comodidade.


Casa do Tiquinho contou com materiais doados pela CASACOR São Paulo após a desmontagem da mostra de decoração.



Aliás, Tiquinho auxiliou na reforma, ao lado de voluntários e de mulheres capacitadas pelo Fazendeiras, outro pilar do Fazendinhando. As Fazendeiras participam de cursos inclusive na área da construção civil. Ester Carro explica que, além da qualificação profissional, os cursos promovem melhorias na qualidade de vida das fazendeiras e de suas famílias, já que a parte prática dos cursos acontece nas próprias casas das alunas.


“Temos relatos de mulheres que não tinham chuveiro elétrico. Hoje, elas resolvem sozinhas problemas de elétrica ou ajudam as amigas, azulejando ou pintando algum espaço. Além de estimular e ensinar, estamos dando autonomia, empoderando essas mulheres. Mostramos que elas são agentes transformadoras do seu próprio território, que colaboram para a comunidade a avançar”, sustenta Ester, que festeja a participação cada vez maior das mulheres nas ações do Fazendinhando.

Participaram da reconstrução da casa do Tiquinho a SUM Engenharia, com doação de materiais, e outros doadores que fizeram parte da campanha. Ester também agradece a CASACOR, CASACOR Sustentável, Plataforma Caos Planejado e RPN Cobogó pelo apoio ao projeto.


Conheça melhor o Fazendinhando


A arquiteta Ester Carro, criada no Jardim Colombo, lidera o movimento Fazendinhando e traz melhorias para a comunidade, como a criação do Parque Fazendinha e a capacitação de mulheres na construção civil.


A história de vida da jovem Ester Carro é daquelas que emocionam e nos mostra que é possível transformar o futuro. Ester teve uma infância e adolescência como a da maior parte dos jovens das comunidades brasileiras. A família morava no Jardim Colombo, vizinha à Paraisópolis, na Zona Oeste de São Paulo, em uma casa precária, de alvenaria mas com poucos revestimentos, que alagava quando chovia.

Os ratos eram presença frequente e a vizinhança era formada por um lixão bem em frente. “Visitava familiares que moravam em condições ainda piores, em casebres de madeira. Dói muito não termos uma moradia digna. E também impacta na saúde, eu vivia com problemas respiratórios. Toda essa vivência me marcou e foi decisiva na minha decisão de cursar Arquitetura”, conta Ester, que concluiu a faculdade de Arquitetura e o mestrado e hoje é professora do Núcleo de Mulheres e Território do Laboratório de Cidades do Insper, além de líder do Fazendinhando, movimento de transformação física, cultural e social no Jardim Colombo.


Comunidade do Jardim Colombo e o antigo lixão.



O primeiro contato de Ester com a Arquitetura veio através das páginas das revistas especializadas que sua avó, empregada doméstica, ganhava de suas patroas. “Quando minha avó percebeu que eu gostava das revistas, trazia sempre mais!”, lembra.

Ester conta que desde criança sonhava com uma carreira onde pudesse devolver algo para a comunidade onde cresceu. O magistério era a primeira ideia que surgia. “Acho que ser professor é a profissão número 1 de todas!” Até que uma amiga sugeriu a Ester a Arquitetura. “Eu estava sempre desenhando o que via nas revistas e a Arquitetura não saía da minha cabeça. Mas ao mesmo tempo pensava: como uma jovem como eu, que nunca teve acesso a moradia digna, posso ser arquiteta?”, lembra.


A decisão veio quando Ester cursou o último ano do Ensino Médio com uma bolsa de estudos no Colégio Adventista, em Taboão da Serra. Todos os alunos precisavam desenvolver um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) voltado à profissão que queriam seguir. Ester foi em busca de mais informações sobre a Arquitetura: “Fechei meus olhos e ouvidos para as críticas que ouvia! Muita gente não me via como arquiteta, por ter vindo de uma comunidade.”


Ela teve certeza de que estava no caminho certo quando, para concluir o TCC, fez um estágio com funcionários da Prefeitura de São Paulo em Paraisópolis. “Conheci arquitetos, urbanistas e paisagistas e fiquei encantada com o universo que a Arquitetura pode alcançar.”


Do lixão ao parque


O caminho profissional de Ester estava apenas começando. Durante os estudos, enfrentou alguns percalços – ficou grávida aos 19 anos e achou que nunca voltaria para a faculdade. Mas, com o apoio da família, teve seu filho e retornou para as aulas. A possibilidade de interferir profissionalmente nos espaços da comunidade do Jardim Colombo surgiu quando Ester conheceu Tomas Alvim, cofundador do Arq.Futuro, plataforma que estuda e discute o futuro das cidades. A ponte foi feita pelo pai de Ester, Ivanildo de Oliveira, presidente da União de Moradores do Jardim Colombo. “Meu pai convidou Tomas para conhecer a Fazendinha, uma área da comunidade repleta de lixo. Sabíamos que não podíamos deixar aquele terreno como estava.”


Outro personagem importante se somou ao grupo: Mauro Quintanilha, que criou o Parque Sitiê, no morro do Vidigal, no Rio de Janeiro. Morador da comunidade do Vidigal, Mauro não se conformava com o lixão a céu aberto, uma área de aproximadamente 8.500 m², com toneladas acumuladas de eletrodomésticos, entulho, restos de comida e até carcaças de animais mortos. “Comecei a tirar o lixo e, para atrair os moradores, fiz uma horta. Distribuíamos o que plantávamos para os moradores e, assim, mudamos o lugar e as pessoas”, lembra Mauro. O trabalho pioneiro trouxe Mauro para São Paulo, mais precisamente para o Parque Burle Marx, onde implantou a Horta Comunitária.


Com uso de materiais como pneus, espaço ganha dignidade e se transforma em local de lazer para os moradores.



Ester começava assim, em 2017, o movimento Fazendinhando, que tem como carro-chefe a transformação do lixão no Parque Fazendinha, um local de convivência no coração do Jardim Colombo. “Não temos praças, parques, escolas, enfim, nada para o lazer dos moradores. Mostramos para a comunidade o exemplo do Sitiê, do Rio, e os moradores ficaram empolgados. Entenderam que o lixão do Jardim Colombo também poderia ser transformado. A Fazendinha é cercada por moradias, então muita gente nem sabia a dimensão do problema porque não é um terreno visível para todos”, explica a arquiteta.


O terreno íngreme, com um declive acentuado de 18 metros entre seu ponto mais alto ao mais baixo, foi dividido em três platôs, para se tornar mais acessível. Ester e Verônica Vacaro foram as arquitetas responsáveis pelo projeto. Mauro trouxe da experiência no Vidigal o bem sucedido uso de pneus. Segundo Ester, os pneus têm a função de sentar, de atravessar de uma plataforma para outra, além de deixar a área mais permeável. A equipe percorreu o Morumbi em busca de pneus, já que não conseguiam doações junto a empresas da área.



Mas, antes do início das obras, era preciso limpar o local: até março de 2020, começo da pandemia, foram retirados 100 caminhões de lixo. O acesso à Fazendinha é por uma viela, então tudo foi retirado nas mãos ou em carrinhos. A arquiteta explica que para a construção das muralhas de pneus foram construídas estruturas com pilares e vigas de concreto.


Além da transformação física do lixão no Parque Fazendinha, o Fazendinhando busca a transformação cultural nos moradores. “Acredito que eles precisam utilizar o local e se sentir pertencentes a ele, zelando pelo espaço.” Da gestão do Fazendinhando participam moradores do Jardim Colombo e gente de fora da comunidade, como a equipe do Arq.Futuro. “A conexão entre pessoas, a construção de pontes, traz mais transparência e durabilidade para o projeto”, conta Ester, para quem a soma de experiências é a chave do sucesso.


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